Senhor Wiinovação

Pessoal, uma das razões para ler revistas de neógiocs e não só de design gráfico.

Publicado na Época Negócios de agosto.

O designer que salvou a indústria de games na década de 80 fez de novo: seu console que permite simular movimentos repôs a Nintendo no topo do mercado

por Rafael Barifouse, de Nova York

Shigueru Miyamotoem vez de correr atrás dos concorrentes, ele desenhou um videogame para quem não jogaEssa é a fila para o ônibus?", perguntei, incrédulo, diante das 70 pessoas alinhadas à frente da Nintendo World Store, na Rua 48 de Nova York, às 8h30 da manhã. Errado: era mesmo a fila para comprar o Wii, o videogame do momento. No dia anterior, um vendedor da loja havia me informado que o aparelho estava esgotado, mas que uma nova remessa chegava todas as manhãs. "Quando me ligam às 9h15, já aviso que não vão chegar a tempo", disse ele. Naquela quinta-feira, como só foram enviados 50 aparelhos, saí de mãos abanando. A dificuldade para comprar o Wii é a evidência prática do sucesso da aposta feita pela Nintendo no chamado Projeto Revolution de 2003. Satoro Iwata, presidente-executivo da empresa, sentia que a concorrência lutava a batalha errada ao criar máquinas e jogos cada vez mais complexos. Novas tecnologias significavam apenas consoles mais caros, difíceis de usar. "Decidimos não competir com a Sony e a Microsoft", diz Iwata. "Em vez disso, lutaríamos contra a indiferença dos que não tinham interesse em video games". À frente do projeto estava Shigeru Miyamoto, 54 anos, designer de games eleito pela revista Time como uma das 100 personalidades mais influentes do mundo. Ele foi o inventor de sucessos como Mario Bros. e A Lenda de Zelda, que ajudaram a salvar a indústria de sua mais grave crise, nos anos 80. Agora, Miyamoto fez história de novo: seu Wii ressuscitou a centenária Nintendo, que escorregava para a irrelevância, e apontou uma nova direção para o mercado - no mês passado, aliás, Ken Kutaraji, presidente do braço de games da Sony e criador do Playstation, afastou-se do comando executivo. Vitória para a Nintendo.
O apelo do Wii não está na capacidade de processamento de imagens, mas sim no sistema de captura dos movimentos. Seu segredo é um controle com aparência propositalmente semelhante à dos usados nas TVs. Nele se resumem meia dúzia de tecnologias inovadoras e um achado econômico: o chip principal do mecanismo custa meros US$ 2,50 (veja quadro). "Nós pensamos: que tipo de controle podemos criar para que as pessoas não tenham medo de tocá-lo?", indaga Miyamoto. Ao jogar tênis, move-se o controle como uma raquete. No golfe, ele faz as vezes de taco. Com o Wii se pode atirar, lutar boxe e jogar beisebol. "Costumo testar idéias com minha mulher, que não entende nada de games", diz Miyamoto. "É o meu esposômetro."
Ao longo do desenvolvimento do aparelho, a equipe foi tão longe na busca de uma nova idéia que Miyamoto sentia "estar dentro de um túnel, sem nenhum sinal de luz". A luz, afinal, apareceu. Inovador, o Wii é também o mais barato de sua geração. Pode custar até menos US$ 350 que os demais e, mesmo assim, dá a seu fabricante US$ 50 de lucro por console, enquanto a Sony perde até US$ 200 em cada um deles. O ceticismo no lançamento já deu lugar à certeza de que a Nintendo conseguiu tocar um público mais amplo, que deve recolocá-la no topo de um mercado que movimenta US$ 30 bilhões anuais. Desde novembro já foram vendidas 7,5 milhões de unidades de Wii no mundo: duas vezes mais que o PlayStation 3, da Sony, lançado ao mesmo tempo, e apenas 3 milhões atrás do Xbox 360, da Microsoft, que chegou às lojas um ano antes. "Nunca antes havíamos assumido um risco tão grande com uma idéia", diz Miyamoto. Deu certo.
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